A crise econômica e ética do País acaba influenciando o estresse e a ansiedade.
"Minha vida está muito corrida".
A frase é a justificativa de muitas pessoas para ficar sempre de olho no relógio ou para faltar a eventos por "estar sem tempo". Porém, esse "costume", quando constante e demasiado, pode ser tornar uma síndrome se o indivíduo não diminuir o ritmo. Estudo realizado pelo Isma-BR (International Stress Management Association do Brasil) em 2015 mostra que a síndrome da pressa já atinge cerca de 30% dos brasileiros. O Psicólogo alerta que é preciso buscar o equilíbrio, identificando os momentos que realmente precisam de aceleração.
Apesar de contar com pesquisas a respeito, o transtorno não está na classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. A síndrome da pressa pode ser usada para caracterizar pessoas muito ansiosas, que "lutam contra o tempo". "Isso é resultado da angústia humana, de viver um tempo limitado entre o nascimento e a morte e de 'experienciar' que nossos desejos não têm limites e que não conseguiremos fazer tudo que desejamos".
No contexto de um mundo cada vez mais conectado e de cobranças, a síndrome acabou se tornando um mal do mundo moderno. "As pessoas esqueceram das boas relações interpessoais para viver correndo atrás do dinheiro e do sucesso. Com isso, escolhem uma vida com muito estresse, podendo desenvolver doenças e até morrer cedo. A pessoa que apresenta um falso self (eu) perdeu-se de si mesmo, por isso entra em compulsão, tentando preencher os vazios sem perceber que isso não será com trabalho, compras em excesso ou bebida em excesso", elenca.
SINAIS
A pessoa com a síndrome da pressa apresenta sinais que diferem da celeridade do dia a dia. Algumas das características são hostilidade, tensão e impaciência. "Quem está vivendo essa síndrome tem muita insegurança, dificuldade de se relacionar com o outro. Pode chegar até um nível de pânico, desenvolver a síndrome de Burnout, apresentar problemas cardiovasculares, gastrite e problemas intestinais", esplica a coordenadora do curso de Psicologia da UniFil.
A especialista adverte que o transtorno pode começar na fase infantil, por isso os pais precisam ter atenção. "O que ocorre é que os pais já fazem agendas para seus filhos desde que são crianças para não perderem tempo. Enchem a agenda com 'mil' atividades que acham importantes para a educação deles, cobram rapidez e perfeição, transmitindo uma ansiedade desnecessária. Criança precisa brincar. Só assim desenvolverá sua criatividade e autonomia."
EQUILÍBRIO
Uma das medidas para não ter uma vida baseada na pressa é encontrar o equilíbrio, identificando os momentos que verdadeiramente precisam de aceleração. "Não vamos realizar tudo que queremos, por isto precisamos fazer escolhas e procurar uma boa relação com a família e amigos. No lugar da competição, precisamos de cooperação. Necessitamos de mais calma e harmonia e acionar muitas vezes nosso sistema nervoso parassimpático para relaxarmos, por isto, música suave na hora das refeições ajuda", sugere a doutora em psicologia clínica.
Caso a síndrome persista, entre as saídas estão a psicoterapia, que tem o intuito de "editar" e "reeditar" o que foi mal assimilado. A psicologia analítica ajuda na integração das partes reprimidas no inconsciente, levando a pessoa a uma maior completude e a deasenvolver sabedoria.
ESTRESSE
A síndrome da pressa está estritamente ligada ao estresse, só que em níveis constantes e não apenas como um mecanismo fisiológico do organismo. "Se a pessoa tem um desafio grande, mas possui estratégias de enfrentamento e consegue dar conta disso, ela também conseguirá dar conta do estresse. Já se não tem as estratégias, ela não consegue superar o estresse e desestabiliza o organismo", especifica Marilda Lipp, PhD em psicologia e diretora do IPCS (Instituto de Psicologia e Controle do Stress). "A pressa acelera o organismo e cria estado de tensão", completa.
Segundo a profissional, a vulnerabilidade do indivíduo vai determinar se o estresse está deixando de ser algo normal para se tornar um problema. "Gera não só problemas físicos, mas também mentais. A pessoa fica sempre irritada, pouco tolerante, difícil de se relacionar, não dorme direito. Ainda pode gerar pressão alta", indica.
Levantamento desenvolvido pelo IPCS, que tem sede em São Paulo, ouvindo aproximadamente dois mil brasileiros, mostrou que 34% dos entrevistados já passaram pelo estresse extremo. O percentual é um recorte, mas visto como uma tendência. "A crise que o País atravessa acaba influenciando, seja a econômica ou a de ética."
Fonte; Folha de Londrina.