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13/06/2019

Depressão na infância e as variadas manifestações de violências que a cercam

Atenção: Depressão na infância 

     
Ao longo da vida temos experiências diversas e são estas que contribuem até o estágio adulto. E como sabemos a vida é feita de momentos, sejam estes alegres ou tristes, e por vezes, nossas emoções amargam a intensidade da tristeza ainda quando criança, não estou falando de uma tristeza momentânea, mas sim de sintomas que caracterizam na criança, comportamentos  de um transtorno depressivo.
     O Transtorno depressivo é conhecido como um transtorno de afetividade pelo qual, seu estado de humor é deprimido ou com perda de prazer que podem levar semanas. O estudo da depressão infantil, ainda é considerado recente, visto que começou a se destacar somente na década de 70. Este cenário da depressão infantil apresenta manifestações por muitas vezes, em torno de violências diversas e devemos sim, nos apropriar do assunto da depressão infantil como uma forma de entender esta relação entre a criança e o adulto.
                                                    
                              

     A depressão em crianças apesar de apresentar sintomas similares ao da depressão adulta, é diferenciada, pois temos como bases, as fases de desenvolvimento, que em cada etapa aponta diferentes sintomas pelo qual o transtorno pode se apresentar em crianças e adolescentes, conforme Toolan (apud Brasil, 1996), nos traz como exemplo:

  • Em crianças menores a dada ênfase a distúrbios de sono e alimentação, choro, cólica;
  • Em crianças mais crescidas, apatia, isolamento social, comportamentos de regressão.
  • Em crianças mais velhas, estes sentimentos depressivos são expressos através de comportamentos que abraçam condutas mais agressivas, desobediência, fuga de casa, comportamento provocativo, além de autopunições ou mutilação.                               
                                                    

     É notório que pode haver uma transformação progressiva dos sintomas, a medida que estas fases de desenvolvimento se alteram e junto consigo sua capacidade de verbalização maior. Assim o quadro depressivo de um adolescente poderá ser similar à de um adulto.
  Transtornos mentais na infância apresentam comportamentos que são internalizantes, comportamentos que ficam guardados internamente sendo comum e característicos transtornos de ansiedade e queixa somática. E comportamentos vistos como “quietos” podem passar despercebidos por responsáveis e professores, visto que chama pouca atenção e não incomoda.
     Adolescentes são mais aptos a apresentarem sintomas depressivos devido sua instabilidade afetiva, consequência da sua fase de desenvolvimento, envolvendo autoestima, impulsividade, perdas que se tornam significativas, como o corpo infantil, pais idealizados e identidade.
   A depressão ela pode ser estabelecida por períodos etários, comumente com poucas mudanças entre crianças pequenas.Considerando, através do DSM, em um nível de depressão maior, haverá cinco ou mais sintomas, que surgem em um determinado período e se fazem presentes:

 Humor deprimido e irritado;
• Diminuição de interesse ou prazer em fazer atividades;
• Alteração de peso e apetite;
• Insônia ou aumento de sono;
• Agitação ou retardo psicomotor;
• Fadiga ou perda de energia;
• Sentimentos de desvalia ou culpa excessiva;
• Diminuição da capacidade de pensar e se concentrar;
• E ideias recorrentes de morte e suicídio agitação ou retardo psicomotor;

      Tipos de violência que ocorrem em torno dos sintomas da depressão infantil


     O prejuízo psicossocial aumenta à medida que mais sintomas aparecem. E são muitos os problemas que podem surgir na vida de crianças e adolescentes associados a depressão e desajustamento em torno destas.
         O aumento de sintomas como havíamos dito caracteriza o nível de depressão, e quando estas surgem simultaneamente na mesma pessoa a chamamos de comorbidades, co-, que significa “junto” e morbidade que indica a existência destes sintomas.  
          E é certo que crianças e adolescentes com mais comorbidades tendem a sofrer mais prejuízos emocionais com dificuldades psicossociais. 
       Muitos são os fatores que funcionam como “gatilhos” para o surgimento de sintomas que podem levar crianças a depreciações, como rejeições, depressão materna ou do cuidador, separações, pobreza, doenças ou perda precoce de um ente querido, eventos de vida adversos, além de alcoolismo e propriamente dito o abuso sexual, causando sérios danos a estes vulneráveis. 
      A relação familiar é um dos principais gatilhos que fazem com que crianças e adolescentes entrem em fragilidade emocional, seja por parte de mães que podem apresentar relacionamentos ruins com seus filhos (proteção em excesso, controladora ou negligente) ou parte de desarmonias familiares ou problemas maritais que podem dar fácil excesso a esta lacuna que é o emocional na infância.

      Depressão Materna ou do Cuidador         

     A depressão materna ou do cuidador é um dos fatores que mais apontam depressão em crianças, considerando que por muitas vezes crianças internalizam o sofrimento de pais ou cuidadores introjetando comportamentos e formas de reagir semelhantes aos dos seus responsáveis, e nestes casos delicados, por vezes impossibilita estas pessoas de exercer os cuidados necessários com seus filhos.
                                                    

       Separação dos Pais

   Em geral os filhos costumam sofrer com a separação dos pais. Em muitos casos as dificuldades ficam por conta ausência afetiva em sua maioria paterna, presença dos filhos diante de brigas, reorganização familiar e chegada de novo membro (madrastas e padrastos). Filhos de pai separados costumam alimentar o sonho de que os pais retornem, e geralmente novos parceiros ao chegarem costumam desmoronar estes os sonhos. Outra dificuldade fica por conta da junção de filhos, quando estes parceiros trazem consigo filhos de outra relação, aumentando assim o nível de conflitos que podem endereçar algumas famílias. 
     É muito importante que se esteja atento a estas redes de fatores que envolvem uma separação de pais para que estes impactos não venham a contribuir no desenvolvimento de uma depressão infantil e para isso profissionais devem estar atentos já que culturalmente temos tantas famílias reconstituídas.
                                         

      Pobreza, Problemas de saúde e Mortes na família

 Refletindo sobre condições socioeconômicas, muitas famílias enfrentam dificuldades que por vezes convivem com privação social, além de desvantagem educacional e desemprego que caminham praticamente na mesma direção ao se falar na pobreza.
    Assim, ao correlacionarmos a depressão com a pobreza vemos que a falta de apoio, informação, acaba por persistir e agravar-se em muitos casos os sintomas depressivos. Mas problemas financeiros já não é mais algo pertencente somente a uma camada popular e ao se avaliar famílias que enfrentam tais dificuldades nota-se que estes são um dos motivos que desencadeiam depressão infantil, já que a pressão vivida pela família e a criança apresentam tais aspectos negativos
    Problemas de saúde também é um fator de agravo na depressão, pois, as consequências deste terreno fértil, é financeiro, é emocional e tudo que sobrecarrega a família, aumenta a vulnerabilidade da criança. Para isso é necessário que este familiar tenha clareza com a criança, apontando as dificuldades para a criança e respeitando seu aspecto cognitivo de compreensão além do seu emocional.
    E para as crianças esta pode ser uma dor ainda maior, pois além de estarem diante do problema, também vivenciam a dor daqueles que amam.
  Outro fator preocupante fica por conta da morte de um ente querido, pelo qual há uma preocupação nítida da família em resguardar o emocional da criança, mas em casos como estes há possibilidades de serem causados transtornos ainda maiores e isto fica por conta do tipo de relação que a criança tenha com a pessoa que morreu, deve-se se estar atento ao contexto familiar e compreender que em alguns casos ser honesto com a criança dando-lhes informações exatas demonstrará empatia e apoio que é umas das posturas mais eficazes.
                                                       
      A convivência com violências na família

  Agressões físicas entre pais, abuso de álcool, agressões psicológicas e agressões físicas além de abusos de vulneráveis são muitos comuns em situações conflituosas e principalmente quando ocorrem durante a fases de desenvolvimento na infância, que acaba sendo um estressor que afeta de forma drástica a vida destes menores a longo prazo.
    As existências destes ciclos são extremamente danosas. E crianças quando diagnosticadas com depressão infantil podem sofrer muito quando são criticadas pelas próprias famílias, e ambientes desarmoniosos podem aumentar muitos dos sintomas depressivos.
    São muitos os tipos de violências, porém a violência psicológica é umas das formas mais prejudiciais para o emocional de crianças e adolescentes, visto que o nível de depreciações, humilhações, desrespeito e discriminações acabam sendo comuns para o agressor, seja ao pontuar com hostilidade uma crítica, como em geral o comportamento ou aparência da vítima vulnerável.

                                                 

    Esta violência verbal pode ser feita por um familiar mais próximo, abordando-o desde situações de humilhações entre parentes, ou críticas pelo o que a criança faz ou diz, ou até por nomes que desagradáveis como “doido”, ” burro” ou “idiota” quase sempre partem de pessoas significativas.

     E quando esta violência é materna?

     Notamos que se parte de algo cultural, já que a convivência das mães com os filhos é muito maior, mas quando ocorre esta violência física ou psicológica entende-se que assim, como a ausência paterna isto impacta-se no desenvolvimento de sintomas depressivos. E não há classe social definida para que tais agressões ocorram.
    A violência física ou alcoolismo podem ser frequentes entre crises de casais que muitas vezes chegam ao extremo até mesmo na presença de crianças e adolescentes.
                               

  E neste campo minado ainda há em casos de intervenções profissionais que precisam entender que uma indução de culpa em casos comuns, ainda que infelizmente como estes não ajudará a criança ou adolescente a enfrentar tais dificuldades, pois, um bom profissional fortalecerá os vínculos familiares afim de reduzir danos, proporcionando um contexto favorável para quem testemunhou atos de violências.

        O abuso de vulneráveis

    É uma outra situação extremamente grave e delicada, pois, trata-se de uma agressão que pode ser vinda de pais, de irmãos ou alguma outra autoridade familiar com condições psicológicas mais desenvolvidas do que da suposta vítima sendo estes contatos diretos por força ou sedução. 
                                                

  Queimando etapas do desenvolvimento infantil, que passa a conhecer um mundo pelo qual relativamente trará desastrosos contextos da culpa a punição.
    Profissionais de saúde devem estar atentos aos contextos que estas crianças e adolescentes estão inseridos, como forma de dá-los acessos aos serviços e direitos como está estipulado Pelo Estatuto da Criança e Adolescente o ECA, gerando uma atenção especializada aos seus cuidadores e buscando ser sensível a suas dores e sofrimento no processo de acolhimento frente a tantas demandas diárias.

       E quando estas violências saem de casa e começam la fora?


   A escola que deveriam ser um lugar de aprendizagem e proteção também abre portas para um outro tipo de violência que tem se tornado corriqueiro. É fato que a falha do sistema educacional abre uma brecha para que estas faltas sociais e exclusões perversas nos tragam para a realidade escolar uma reprodução do que é aprendido tanto nos lares como em comunidades, ambientes hostis que sinalizam jovens em idades variadas cada vez mais agressivos.
    E estas agressões podem ser por meio de roubos, tapas, beliscões, ameaças tanto entre alunos como na relação aluno -professor. E o aumento em geral destas condições críticas, só fomenta um descrédito do vitimado perante a instituição.
 Destroem-se autoestimas, gerando desconfiança, medo, insegurança, no local deveria estar seguro, assim, crianças se tornam ainda mais vulneráveis perante este contexto, pelo qual, estará aberto a episódios de depressão.
  Os aspectos psicológicos são fundamentais na infância, já que crianças, que estão em desenvolvimento, podem facilmente desencadear aspectos negativos através de sintomas depressivos, ressaltando que cada um tem sua subjetividade, e cada adversidade, é percebida e sentida de uma forma muito individual.
  Estar atento aos filhos é crucial para que se torne um adulto saudável, já que baixo autoestima, deficiência de autonomia e distorções cognitivas tem se tornado cada vez mais comuns.
  Aos profissionais, cabem de fato, acolher ambos os lados para entender e compreender a partir daí quais medidas podem ser tomadas, afim de trazer a vida, o que anda apagando a luz de muitas famílias, a depressão na Infância acerca de violências.

Referência:

ASSIS, G. SIMONE; AVANCI, Q.JOVIANA; PESCE, P. RENATA. Depressão em Crianças:Uma reflexão sobre crescer em meio à violência. Ed. Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, 2008.


PUBLICAÇÃO: Psicóloga Grisiela P. da Costa.