A explicação estará, muito provavelmente, no desenvolvimento incompleto do cérebro humano quando nascemos.
O comportamento que deixa qualquer pai ou mãe com os cabelos em pé. No caso do avô ou da avó, há sempre uma espécie de amnistia para os gritos e choros aparentemente sem motivo, para aquelas vezes em que se atiram para o chão aos berros na rua ou num corredor de supermercado. Às vezes, simplesmente porque sim.
Alguma vez parou para pensar porquê que isto acontece? A explicação estará, muito provavelmente, no desenvolvimento incompleto do cérebro humano quando nascemos. Que, tudo indica, é exatamente a mesma razão pela qual a adolescência é vulgarmente considerada a idade da parvoíce. E a infância é o primeiro teste da adolescência para os pais.
1. Qual é a idade da birra?
Em uma enquete realizada no site Crescer, 63% dos 158 participantes afirmaram que os filhos fizeram mais birra entre 2 e 4 anos. É nessa idade que as crianças testam os limites dos pais e diante da frustração de um NÃO, choram, esperneiam, gritam, se jogam no chão. Tudo isso porque não aprenderam a lidar com essa sensação. Mas ela pode começar já aos 6 meses e só terminar aos 8! Muito depende do tipo de criação que a família vai dar e outro tanto da personalidade da criança. Caso seu filho ultrapasse os 6 anos ainda tendo ataques de birra constantes, é melhor procurar a ajuda de um especialista. Pode ser que ele esteja sofrendo com algum problema ou acontecimento recente. Mudança de casa, de escola, a morte de um parente querido ou de animal de estimação, a separação dos pais e até mesmo a falta de diálogo em casa podem atrasar o desenvolvimento da criança. Essa é uma das formas de ele pedir socorro.
O neocórtex, que é a última região a desenvolver-se, corresponde a 76% do cérebro humano. Tem mais ou menos 20 mil milhões de neurônios que controlam a parte da reflexão, do planeamento, da imaginação, do pensamento analítico e da resolução de problemas e conflitos.
Por mais que nos custem aquelas cenas de teatro a que as nossas crianças, por vezes, nos sujeitam, a verdade é que elas não fazem todo aquele número de circo, simplesmente porque querem. A ciência lá encontra uma explicação para estes comportamentos indesejados.
2. Por que ela acontece?
Isso acontece porque as crianças ainda não têm maturidade suficiente para lidar com uma determinada frustração e acabam explodindo. Essa explosão vem em forma de choro incontrolável, gritos e aquela movimentação intensa difícil de conter. Na verdade, em algumas situações, as crianças estão testando o limite dos pais para descobrir até onde podem chegar. Outras vezes, a birra é apenas um pedido de ajuda inconsciente para lidar com um sentimento novo que é a frustração.
Uma equipa de cientistas do departamento de psicologia da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, desenvolveu um estudo que sugere que o comportamento dos filhos piora 800% na presença da mãe. A degradação pode crescer para os 1600%, se a criança tiver menos de 10 anos.
Esta investigação acompanhou 500 famílias e verificou este quadro: 99,9% das crianças que brincavam tranquilamente quando estavam sozinhas, apresentavam 100% de hipóteses de chorar quando a mãe aparecia.
Um comportamento verificado até nas crianças com deficiência visual, uma vez que bastava ouvirem a voz da mãe para percecionarem a presença.
Então, e porquê? Bem, aí os cientistas não chegaram propriamente a uma conclusão. Mas asseguram aquilo que, qualquer um de nós consegue ver lá em casa, sem precisar de grandes especializações em psicologia infantil. As crianças menores de 10 anos são tendencialmente mais apegadas à mãe e, por isso mesmo, necessitam de mais atenção por parte delas.
3. Dá para evitar?
Sim, porque o ataque de birra começa muito antes dos berros e do choro. É uma manha, um pedido que não pode ser realizado, um lugar muito agitado e cheio de gente ou sono, cansaço etc. Quando os primeiros sinais surgirem, é hora de negociar, levando em conta a idade da criança.
4. Como lidar com o ataque?
Infelizmente, não existe uma fórmula infalível. Tudo depende da criança, da idade e da situação. Mas algumas dicas podem ajudar nesse desafio. Primeiro de tudo, pense se vale a pena entrar nessa batalha com seu filho. Ele realmente está exagerando? Está pedindo algo que já tem, ou está irritado, com sono ou fome, está calor demais? Muitas vezes, eles precisam de um lugar mais tranquilo para dormir ou se alimentar, ou simplesmente estar.
5. Espaço para a rotina
Criança precisa de rotina, gosta de saber o que vai acontecer, o que pode e não pode fazer. Dá segurança e é transmissão de afeto. Isso vale para as situações mais cotidianas, como tomar banho, jantar e ir para a escola. Para isso acontecer, a família toda precisa se organizar. É como confundir a criança quanto aos valores da família: consegue imaginar como seria caótico um lar em que o certo e o errado se misturam? Para manter as regras é fundamental também facilitar para que elas sejam cumpridas: se você quer que ele sempre se comporte em um lugar público, não vai deixá-lo horas sentado em um restaurante cheio ou esperar que ele fique calminho em uma fila de banco, não?
6. Valorize o não
OK, você já sabe a importância de falar 'não' para que seu filho aprenda a amadurecer e perceba que não terá tudo sempre à mão quando pedir. “Crianças que nunca são contrariadas acabam se tornando adultos irritados, agressivos e até infelizes. Afinal o mundo não dará somente o sim incondicional que os pais sempre disseram”, explica a psicanalista infantil Anne Lise Scapaticci. E justamente por seus bons efeitos, a palavrinha não deve ser desperdiçada em situações completamente desnecessárias. Quando usado sem moderação, o não perde força e convida à desobediência.
7. Acerte no castigo
Não adianta punir crianças menores de 2 anos. Elas não têm maturidade suficiente para perceber que fizeram uma coisa errada, muito menos que estão pagando por isso. Mas, por exemplo, se ela joga um brinquedo no chão ou em alguém e você tira o brinquedo, já pode ser um castigo para ela. Quando a criança é maior, vale excluir algo importante para a criança, como o clássico “ficar sem TV”. “Castigos, quando bem aplicados, atendem ao senso de justiça que todas as crianças têm. A falta de punição, pelo contrário, as desorienta. Um olhar quieto e sério para um filho é um tipo de punição particularmente eficaz. O objetivo da punição é incomodar”, afirma o psicanalista Francisco Daudt da Veiga.
Para ser educativo, a criança precisa entender a relação entre o que fez e a consequência. A punição deve acontecer no mesmo momento, pois as crianças têm uma visão imediatista: ainda não aprenderam a pensar a longo prazo. Ou seja, depois de algum tempo, não sabem por que estão sendo castigados, esqueceram da birra e da importância que demos a ela.
E não é muito repetir: não estamos falando de palmada, beliscão ou tapa. Isso tudo está mesmo fora de cogitação.
Fontes: Anne Lise Scapaticci, psicanalista infantil (SP), Silvana Rabello, psicóloga, Simone Savaya, psicóloga infantil (SP), Guillermo Ballenato, psicólogo espanhol, José Martins Filho, professor de Pediatria da Unicamp (SP), Ivan Roberto Capelatto, psicólogo e psicoterapeuta (SP), Teresa Bonumá, psicoterapeuta familiar (SP). Oscar Daniel